De Puerto Varas a Bariloche pelo Cruce Andino

Em janeiro deste ano fiz a travessia do Cruce Andino, partindo de Puerto Varas até Bariloche. A viagem que une dois destinos incríveis das Patagônias Chilena e Argentina tem paisagens de tirar o fôlego. Todos os dias do ano, dois grupos distintos partem tanto de San Carlos de Bariloche rumo ao Chile, quanto de Puerto Varas rumo à Argentina, por volta das 8h30 da manhã. A chegada prevista é às 21h, sendo que o percurso tem paradas estratégicas para almoço ou pernoite na pequena Peulla.

De qualquer forma, saindo do lado argentino ou do chileno, fazer o Cruce Andino vale muito a pena. Principalmente se você gosta de viagens de Natureza, com vulcões, montanhas íngremes, geleiras e lagos de cor esmeralda. Abaixo vou contar minha experiência e espero que seja pura inspiração para suas próximas férias.

Cruce Andino

Cruzar a Cordilheira dos Andes entre as divisas do Chile e Argentina é a proposta do Cruce Andino, também conhecido como travessia dos Lagos Andinos. As paisagens são exuberantes e quem ama destinos de Natureza se encanta com cada mudança de cenário. A viagem, acompanhada por guias que falam espanhol, português e inglês, dura praticamente um dia inteiro. Afinal, o trajeto tem 180 Km e é feito ora por ônibus de turismo, ora por catamarãs, ora por microônibus.

Duas empresas operam o Cruce Andino. Do lado chileno, a Turistour, e do lado argentino, a Turisur. Ambas se dividem no trajeto, conforme o trecho do percurso, para nos levar com total segurança de um país ao outro. Assim como nossas malas, que são despachadas no início da travessia e só são retiradas no final, portanto sem preocupação para o viajante.

Puerto Varas

Escolhi Puerto Varas para ser nosso ponto de partida da travessia dos Lagos Andinos. Mas antes dessa escolha, pesquisei bastante e descobri que ir do Chile à Argentina tem duas vantagens. A primeira é ver o Vulcão Osorno pela manhã, exuberante a partir do Lago de Todos os Santos. É belíssimo mesmo, pena que pegamos dias bem nublados e parte dele estava encoberta pelas nuvens. A segunda vantagem é passar pela aduana argentina, menos rigorosa com artigos como chocolates, alfajores e afins. Cruzando a fronteira pelo Chile soube que a inspeção pode não permitir a entrada de alguns produtos alimentícios, que serão descartados pela fiscalização. E como amo chocolates, preferi não correr o risco.

Mas de qualquer forma, saindo ou chegando de Puerto Varas, a cidade merece que você fique pelo menos três noites para conhecer este belo destino. Colonizada por alemães, ela é pequena e lembra muito nossas estâncias hidrominerais paulistas. Tem bons hotéis e uma variedade de restaurantes. O Lago Llanquehué é uma das atrações, além do Vulcão Osorno que fica de frente pro lago a quilômetros de distância. Se tiver tempo, faça um tour até ele. E vá também visitar Frutillar, outra graciosa cidade do Lago Llanquehué, famosa pelas tortas alemãs.

De Puerto Varas a Bariloche

O Cruce Andino a partir de Puerto Varas com destino a Bariloche começa às 8h30. Na primeira parte do percurso, um ônibus de turismo leva os viajantes por terra até os Saltos do Rio Petrohué. Lá há uma parada de cerca uma hora no Parque Nacional Vicente Pérez Rosales. A entrada é paga, mas vale a pena ver as águas de cor esmeralda do Rio Petrohué e suas quedas sobre pedras vulcânicas. Não à toa, a vizinhança abriga dois grandes vulcões do Chile, o Osorno e o Cabulco, tornando a paisagem ainda mais incrível em dias de sol. Ambos são ativos mas é seguro visitar a região.

Lago de Todos os Santos

Depois da visita aos Saltos de Petrohué, por volta das 10h, o ônibus segue até o Puerto de Petrohué no Lago de Todos os Santos. Lá, começa a primeira parte lacustre da travessia. Um confortável catamarã atravessa o lago rumo a Peulla, pequena cidade na divisa entre Chile e Argentina, aos pés da Cordilheira dos Andes. Neste trajeto é hora de se despedir do Vulcão Osorno, que fica ainda mais bonito visto do Lago de Todos os Santos. Passamos também pelo Vulcão Pontiagudo e por ilhas ao longo da travessia.

Peulla

Depois de duas horas de navegação, por volta das 12h, o catamarã atraca em Peulla, uma cidade chilena habitada por apenas 120 pessoas. Ali, a parada é de almoço e de passeios (pagos à parte), para quem vai prosseguir na travessia de dia inteiro. Mas há também a possibilidade de pernoitar em um dos dois hotéis de Peulla, com custo extra. Optamos por fazer o percurso todo em um único dia de travessia. Mas confesso que me arrependi, porque é bastante cansativo. Hoje, se eu tivesse que escolher, faria este pernoite estratégico no vilarejo para aproveitar mais as paisagens deslumbrantes da travessia. Afinal, depois de muitas horas (13h no total), o percurso começa a perder a graça e só queremos chegar logo no hotel em Bariloche.

Portanto, se você se interessar em fazer o Cruce Andino, faça o tour em duas etapas e vai poder desfrutar melhor da parada em Peulla e também do percurso como um todo. Aliás, Peulla é uma pequena vila ecológica, reconhecida como o destino mais sustentável do Chile. Quem opta por permanecer hospedado por lá, pode fazer passeios como o do Vale El Encanto e o do Silêncio, ambos disponíveis também para quem vai continuar a travessia. No próprio catamarã que cruza o Lago de Todos os Santos, é possível comprar os passeios de Peulla.

Puerto Frias

Por volta das 15h, todos os viajantes que optaram pela travessia de um dia seguem de microônibus até o Puerto Frias, na Argentina. Os demais permanecem hospedados nos dois únicos hotéis do vilarejo. Da mesma forma, quem já havia pernoitado em Peulla no dia anterior, segue também no mesmo microônibus. O trajeto é íngreme já que vamos subir e descer a Cordilheira dos Andes por uma estrada de terra. No meio do caminho, cruza-se a fronteira entre Chile e Argentina, onde fazemos uma parada para fotos. Em seguida percorremos mais alguns metros até o desembarque em Puerto Frias, no lado argentino da travessia.

Precisa de ajuda pra escolher seu hotel? Então não deixe de ler minhas dicas em Como escolher o melhor tipo de hospedagem.

Imigração

Por se tratar de uma região de fronteira, nossos passaportes ou RGs são entregues em Peulla ao guia que fará nossa saída do Chile. E no lado argentino, o documento retorna para passarmos pelo setor de imigração da Argentina, numa casa de madeira às margens do Lago Frias. Acho que é a imigração mais linda que já passamos até hoje. Lá algumas malas dos viajantes podem ser escolhidas pra serem vistoriadas. E claro que duas das nossas malas foram. Mas sem problemas, foi bem tranquilo esse procedimento.

Puerto Blest

Por fim, após a verificação de malas e carimbo nos passaportes, o grupo segue de catamarã pelo Lago Frias até Puerto Alegre, já em território argentino. A navegação é rápida, cerca de 20 minutos. Na sequência, fazemos o terceiro trecho por terra até o Puerto Blest. Chegamos neste ponto da travessia entre Puerto Varas e Bariloche por volta das 19h e embarcamos no último percurso de navegação, que dura cerca de uma hora. Desta vez, vamos de barco pelo Lago Nahuel Huapi até Puerto Pañuelo, em Bariloche. A paisagem do trajeto é belíssima, com montanhas íngremes que circundam o lago cor de esmeralda.

Puerto Pãnuelo

Por fim, chegando ao Puerto Pañuelo, nossas malas são colocadas num ônibus e seguimos até o Centro Cívico em Bariloche. No caminho, alguns passageiros podem descer em hotéis ao longo do percurso. Não tivemos essa sorte, já que descemos no ponto final, a três quadras da nossa hospedagem, em frente ao escritório do Cruce Andino em Bariloche. Chegamos na cidade por volta das 21h, totalmente exaustos. Ainda bem que nosso hotel era ao lado de restaurantes e pudemos comer antes de tomar banho e dormir.

Bariloche

Nossa viagem de Puerto Varas a Bariloche foi feita no verão. As temperaturas estavam amenas e os dias foram de céu azul e dias longos. No inverno, fazer esta travessia dos lagos andinos deve ser totalmente diferente, já que as montanhas estarão cobertas de neve e os dias são mais curtos. Mas de qualquer forma, se você escolher fazer o Cruce Andino, recomendo o pernoite em Peulla ou em Puerto Blest, outra opção de parada para o descanso no percurso da travessia.

Caso você opte por fazer o percurso contrário do que fizemos, não se esqueça de ver os limites da aduana chilena para entrada de alimentos no país. Veja essa informação aqui.

Água

Espero que você tenha gostado deste post e recomende a seus amigos. Ele faz parte da Blogagem Coletiva do grupo 8on8, onde blogueiras amigas escrevem sobre suas experiências de viagem sobre um tema em comum. Neste mês de maio, o tema escolhido foi Água. Veja os outros posts sobre esse assunto abaixo:

• Travel Tips Brasil  – Circuito mágico das águas Peru
• Mulher Casada Viaja – Lado Argentino das Cataratas do Iguaçu: o que saber antes de ir
• Destinos Por Onde Andei… – Embalse Potrerillos, Mendoza, Argentina
• Entre Mochilas e Malinhas – Ópera de Arame e Parque das Pedreiras em Curitiba